A minha ideia inicial era gravar um episódio sobre isso pro podcast mas acabou que eu não consegui hahaha Sinto que esse assunto flui melhor quando eu escrevo do que quando falo e assim eu inicio uma pequena série de postagens sobre o trabalho com luz aqui.
Eu me descobri dentro da bruxaria tradicional recentemente e abracei a minha tendência a trabalhar om santos católicos. Magia popular, piedade popular (folk catholicism na gringa) e feitiçaria herética é algo que sei que vai acompanhar minha prática até o fim dos meus dias.
Porém, uma coisa que eu não havia percebido com a clareza enorme que percebi recentemente é a de que a bruxa é um ser do limiar, alguém que caminha entre dois mundos, que anda entre luz e sombras. Isso remete àquele ditado de que uma bruxa que não sabe amaldiçoar não sabe curar. Uma bruxa não é inteiramente luz, assim como não é inteiramente sombra. Ela é os dois. Ela anda nesses dois caminhos.
E ao meu ver essa é a característica que mais difere a bruxa dos demais, que a separa de sacerdotisas e magistas. Ao longo da história os relatos, as lendas nos falam de mulheres e homens que tinham o poder de proteger as pessoas e de levar morte até elas também. Que faziam filtros e feitiços para unir amantes e que os faziam também para separar um casal. Faziam com que a colheita fosse farta mas podiam azedar o leite e tornar a terra seca e pobre se bem entendessem. A bruxa nasce do limiar, ela surge do encontro de luz e sombra, de vida e morte.
Isso ficou mais claro pra mim depois que reorganizei o meu altar. Quando terminei de limpar e colocar as coisas no lugar eu notei que ele estava dividido ao meio: de um lado estava Hékate, a sombra, e do outro estava Maria, a luz. Pra quem não é acostumado com esse caminho essa imagem pode parecer absurda. Maria sempre esteve presente na minha vida mas eu nunca tinha parado pra aceitá-la como a deidade com a qual eu trabalharia a minha luz. E eu tentei me aproximar de deuses e deusas de luz e isso não deu muito certo.
Quando resolvi aceitar sua presença definitivamente, quando percebi qual é o meu caminho mágico, depois de mudar meu altar (eu sempre digo que eles refletem a nossa prática no momento) foi que eu percebi como realmente somos seres do limiar e que a gente precisa equilibrar esses lados. Equilibrar luz e sombra, vida e morte, esse mundo e o outro lado.
A sombra não existe sem a luz, a luz não existe sem a sombra. E a bruxa caminha entre elas.
Perceber isso foi importante porque eu venho tentando trabalhar mais o lado da luz. A minha prática, principalmente meu trabalho com Hékate, sempre foi mais voltado para as sombras e eu sofria com o desequilíbrio de energias. Apesar de o momento atual ser um período de “ficar de molho” pra mim, eu tenho me sentido mais tranquila e em paz.
Quero falar mais sobre a minha história com Maria e sobre o que venho trabalhando com ela. Assim que der eu venho contar ❤
O post de hoje é isso. Um beijo e que os bons espíritos te acompanhem!
O Crânio do Corvo 