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Uma História Sobre Ancestrais

Há um tempo eu venho querendo escrever por aqui mas não conseguia desenvolver algo de fato. O podcast é outro pobre coitado que mal recebe atenção. Acontece que essas épocas de final do ano, principalmente os meses de setembro, outubro e novembro judiam bastante da minha pessoa. Mudanças, mudanças e mudanças sem fim. Mas é um processo e eu preciso me encontrar em meio a isso tudo.

Hoje é Dia de Finados, e, Finados é um dia que aprendi a ter como um dos mais importantes do ano. Desde que comecei a ter mais contato com espíritos e me aproximar de meus guias e ancestrais eu passei a respeitar e dedicar uma parte desse dia aos mortos. Não é sempre que conseguimos dedicar o dia todo a algo ritualístico ou de devoção, particularmente eu não consigo ficar o dia todo fazendo uma única coisa, mas pelo menos uma devoçãozinha eu costumo fazer. E hoje, antes de me sentar e falar com meus mortos eu resolvi contar uma coisa aqui sobre ancestrais e como algumas coisas acontecem quando a gente se aproxima dos mortos.

Eu tive uma relação bastante difícil com a minha avó em vida. Ela era uma pessoa que não se dava bem comigo e por muitos e muitos anos eu pensei que ela me odiasse. Quando ela morreu eu pouco senti a perda, sendo bastante honesta. Mas o que eu não esperava era saber mais sobre ela e sobre a vida dela após a morte. A história de vida dela veio chegando até mim aos poucos, com a visita de um parente, uma carta antiga encontrada na gaveta, com pertences que acabaram ficando comigo… E eu fui conhecendo mais da minha avó. E nesse caminho, compreendi os motivos de ela ter sido uma pessoa ora cruel, ora amargurada em vida.

Até então eu não caminhava pelas sombras da bruxaria ainda, não inteiramente. E fui levando essa compreensão comigo, modificando aos poucos a visão que eu tinha dessa pessoa. Depois de um tempo, já praticando e caminhando nas trilhas da Arte, eu tive a oportunidade de perdoar minha avó. Ela veio até mim em um sabbath de Samhain e eu pude falar com ela, dizer que eu entendia os motivos dela e o porque de ter agido daquela forma comigo em vida. Chorei muito mas senti muito alívio, e acredito que ela também. A sensação que tive foi a de que ela precisava disso, seu espírito precisava disso.

Muitas vezes eu me deparo com textos sobre ancestrais na plataforma Patheos e vejo muitos questionamentos sobre honrar ancestrais que foram tóxicos, cruéis ou que não nos fizeram bem em vida. É uma escolha de cada um honrar ou não seus mortos. Porém, dificilmente você vai conseguir saber se todos os espíritos familiares e ancestrais ligados a você foram o que você considera uma boa pessoa. Como ser seletivo apenas com os bons? Acho bastante difícil, sinceramente. E sendo ainda mais sincera, isso demonstra que talvez esse trabalho com espíritos não seja o melhor pra você, não agora.

Não foi nem um pouco fácil perdoar minha avó. A morte e o perdão não apagam as coisas que ela fez tampouco apagam as memórias disso. Mas eu escolhi fazer esse trabalho, eu escolhi lidar com os mortos, abraçar os espíritos ligados a mim e compreendê-los. Eu percebo que, quando estamos dispostos a seguir nesse caminho, conseguimos grandes transformações em nossa linhagem, em nossa família. O trabalho com ancestrais pode curar feridas que estão abertas há décadas em uma família, pode transformar e modificar um padrão, um ciclo que não faz bem, pode modificar e transformar muitas coisas. Nós podemos ser agentes de mudanças em nossas famílias.

Não é algo fácil, mobiliza muitos sentimentos e sensações em nosso interior. Mexe com nossas sombras, nos faz lidar com a finitude e a fragilidade da vida, toca em nossas feridas. Lidar com ancestrais vai além de celebrações simbólicas em épocas de festas. É estar aberto a receber os espíritos, ouvir suas histórias, curar suas dores e manter uma chama sempre acesa em nossos corações. É lembrar que um dia estaremos com eles do outro lado do véu.

Aos pés que caminharam nessa terra antes dos meus, sangue do meu sangue, ossos dos meus ossos, eu os honro e agradeço, pois vossa existência me permite estar aqui. Eu honro e venero meus parentes, meus guias, meus ancestrais. Que a luz sempre chegue e que o amor se faça presente. Honrados, lembrados e abençoados sejam os espíritos, que um dia estejamos juntos em alegria do outro lado do véu que separa os mundos.

Que os bons espíritos te acompanhem ❤

Um comentário em “Uma História Sobre Ancestrais

  1. Passei por isso recentemente. Levei 20 anos para me descartar da ideia da culpa e do remorso por causa do meu pai. Me considerava culpado por ñ estar com ele todo tempo, por ñ ter assistido em suas necessidades, por ñ ter sido amigo dele. Ele tmb ñ era um homem de grandes confissões, era muito fechado devido a sua infância complicada e pelos anos dedicados à família. Eu ñ o culpo, nem a mim mesmo. Foram circunstâncias que ñ prevemos e que levaram nossas vidas para caminhos distintos. Leva tempo, ñ é fácil, mas é uma jornada necessária seguir para crescermos.

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